Entrevista concedida para a jornalista Cintia Corrales
Cintia Corrales => Henrique, você mantém o site cultural Verdes Trigos há muitos anos . O que levou um advogado a dedicar-se a essa empreitada? Dá para conciliar essa atividade profissional e a militância cultural?
Henrique => “Verdes Trigos” já faz parte do meu modo de ser, é o meu Tibet, onde eu me encontro e busco refúgio seguro para minha mente e refrigério para o espírito, pois minha atividade profissional principal é altamente estressante. Durante o dia, me debruço sobre os casos que me são colocados e estes me esgotam, no entanto, à noite, após uma hora de academia e o jantar, me refugio nos meus verdejantes campos de trigo. É aí que minhas idéias, meu pensamento, minha inteligência se encontram para militar culturalmente. Assim, como estava a dizer, todas as noites, todas as manhãs, antes de ir ao trabalho, e nos finais de semana, reservo tempo para o “Verdes Trigos”. A filosofia do sítio “Verdes Trigos” é no sentido de que as boas idéias, bons pensamentos e os bens culturais devem ser disponibilizados socialmente, até mesmo como forma de entretenimento; é por isso que invisto tempo e dinheiro no meu sitio, cujo retorno cultural me é altamente satisfatório. No “VerdesTrigos” o advogado Henrique Chagas não se apresenta, mas advoga uma causa que lhe é muito particular: que a maior riqueza está no conhecimento, no aprendizado, na grande herança que recebi de meu pai (o desejo de sempre aprender).
Cintia Corrales => De onde veio o nome “Verdes Trigos“? Você é um fã explícito de Van Gogh, não?
Henrique => Sim, sou fã explícito de Vincent Van Gogh. Talvez seja tão louco quanto ele, pois somente alguém com tenacidade e persistência mantém um sítio cultural, que envolve tempo e altos custos, por quase uma década sem qualquer retorno financeiro. Por outro lado, o retorno é altamente prazeroso. Lima Trindade, do Verbo21, em recente entrevista, disse que escreve porque não sabe desenhar; então eu que não sei desenhar e muito menos pintar, também escrevo e faço o “Verdes Trigos”, uma obra que tem a pretensão de ser uma homenagem ao grande Van Gogh. Em 1998, ao criar a marca, eu desejava um nome que expressasse a minha filosofia pessoal, que representasse um arquétipo milenar de esperança na humanidade e que ainda contivesse algo da minha experiência pessoal. Como apaixonado por Gogh, em especial pelo “The Green Wheat Fields“, o associei aos verdes trigos da minha infância, como descrevo na apresentação do sitio e a ele dei uma conotação quase que mística, pois representa a esperança de um mundo melhor, que se conquista pela solidariedade, tolerância e pelo repartir do conhecimento. Muitos acham que “VerdesTrigos” é um sitio religioso; e é mesmo, embora não tenha nada de religião, ao contrário, é por demais profano. Como para mim, esta distinção não existe, “Verdes Trigos” é muito sagrado para mim. Do trigo se faz o pão. Foi pela cultura, pelo conhecimento e pelo estudo que conquistei um pequeno espaço neste mundo, por isso procuro contribuir com a cultura e com aqueles que sentem fome de conhecimento, cultura e saber.
Cintia Corrales => O que explica o destaque do “Verdes Trigos“? Você acha que é um fruto natural estar todos estes anos na rede ou há algum fator que colabore para isso?
Henrique => Creio que o destaque do “Verdes Trigos” decorre muito da persistência, da disciplina que empreendemos na sua condução. Certa vez, quando me apresentei ao escritor Moacyr Scliar, no Salão do Livro em Belo Horizonte, ele imediatamente me disse: “não pare nunca”. Nossa, é uma honra para mim: um imortal da ABL, além de saber da nossa existência, ainda pedir para que continuemos. Respondi, com voz emocionada, que jamais abandonarei o “VerdesTrigos“. Ele também se mantém como fruto natural destes anos de rede, mas é especialmente fruto da colaboração dos nossos amigos, dos nossos visitantes, de todos aqueles que nos apóiam de uma forma ou de outra. Evidentemente, o fato de ser um sítio com conteúdo específico colabora muito para o seu destaque nos sistemas de busca, aumentando assim a visitação.
Cintia Corrales => Como você seleciona o que será publicado no Verdes Trigos? Essa é uma tarefa de uma equipe ou de um homem só?
Henrique => Primeiro, somente publico aquilo que se coaduna com a filosofia empreendida no VerdesTrigos, que vende esperança e a possibilidade de um mundo mais feliz, mais próspero e mais harmônico. Aceitamos e instigamos a polêmica, jamais aceitamos idéias intolerantes, racistas e que desrespeitam o nosso leitor. Essa é a nossa política. Em segundo lugar, tem muito do nosso gosto pessoal também. Coincidências e subjetividades, claro! Ah, o VerdesTrigos é feito por uma equipe de uma só pessoa. Fazemos tudo, desde a programação à publicação. Eventualmente, quando juntamos alguns trocados, contratamos algum trabalho especifico, como por exemplo, software para gerenciamento de banners, e-mails ou para publicação. Claro, contamos com a imensa colaboração dos escritores, dos colunistas e das editoras, que sempre nos encaminham material, livros e etc.
Cintia Corrales => Como você vê o panorama cultural no Brasil hoje?
Henrique => O panorama cultural no Brasil é vasto e muito rico. Vejamos o caso da literatura, virou moda toda cidade ter a sua feira literária ou até mesmo um festival internacional, como é o caso de Parati. É uma festa onde os leitores podem encontrar o seu autor e este os seus leitores. Volta-se à tradição oral da literatura, quando antes da escrita os autores recitavam oralmente suas histórias, hoje o autor comparece às feiras para dizer sua obra. Entretanto, a grande dificuldade do autor, romancista ou poeta, é conseguir publicar sua obra. As editoras buscam atender às exigências do mercado (esse “ser” invisível que dita as regras) e os iniciantes ou de localidades longínquas dos grandes centros, somente conseguem publicar utilizando-se de seus próprios recursos. Ainda bem, com o advento da internet, que se pode publicar de forma menos onerosa e com grande alcance através dos propalados blogs ou nas comunidades da internet.
Cintia Corrales => Especialmente sobre os lançamentos literários nacionais mais recentes, imagino que seja difícil apontar destaques, mas o que mexeu mais com sua sensibilidade?
Henrique => É mesmo muito difícil apontar os destaques. Participei do júri do Prêmio Portugal Telecom de Literatura 2007, em sua etapa inicial, e tive enorme dificuldade para votar em cinco obras. Queria apontar cinqüenta, mas para escolher cinco delas, perdi o sono com medo de ter sido injusto com aqueles que não escolhi. Fiquei muito feliz porque dois dos meus cinco indicados estão na segunda fase esperando os votos do júri intermediário. Torço por eles.
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